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Grupos tnicos (Terreiro Op Ofonj - Foto: Antnio Milena - (Licena: CC-BY-SA-3.0) |
A populao baiana surgiu da mistura de trs grupos humanos: o ndio que j habitava o territrio milhares de anos antes da chegada dos Portugueses, o africano que foi trazido contra vontade da frica e os Portugueses que vieram para colonizar e explorar as novas terras. Estes grupos no se mantiveram fsica ou culturalmente separados e aps um curto espao de tempo, a sociedade em formao j possua tipos caracteristicamente brasileiros resultantes da mistura dos grupos iniciais. 1p2x2s
O mulato (negro e branco), o cafuzo (negro e ndio) e o caboclo (branco e ndio) e o resultado de sua mistura, tornaram-se cada vez mais numerosos numa populao dominada pelos preconceituosos brancos Portugueses que detinham o poder financeiro e poltico da colnia.Cada grupo contribuiu de uma maneira para a modelagem da sociedade em formao dando-lhe caractersticas prprias em aspectos fsicos e culturais.
ndios
Segundo Ribeiro (1997), ao chegar Bahia, o primeiro grupo indgena com o qual os europeus tiveram contato foi o tupiniquim, da famlia tupinamb, tronco tupi-guarani que j habitava, quase totalmente o litoral de todo o territrio baiano. Segundo Soares apud Celene Fonseca, o litoral baiano foi denominado pelos Tapuias desalojados pelos Tupinambs. Estes chegaram a costa por volta de 100-1200 d.C., ou seja, 300 a 500 anos antes dos Portugueses. Alencar et all afirma que pesquisas permitem dizer que desde 8000 a.C. grupos humanos habitam a regio que hoje o Brasil, vindos da sia ou Europa.
No entanto, pouco se conhece sobre a vida dos habitantes anteriores chegada dos Europeus, por isso toda a histria do Brasil foi criada pelos colonizadores e tem uma viso eurocntrica da vida. Mesmo a denominao NDIO dada aos povos que habitavam as terras do Brasil equivocado e decorre da errada idia dos espanhis que, anteriormente, pensavam ter chegado ndia, ao chegar Amrica Central.
Alm do litoral, tambm outros grupos indgenas foram logo conhecidos pelos europeus. aimors e patachs habitavam as terras prximas ao Esprito Santo e Minas Gerais. Entre o Rio Prado e o Rio de Contas estavam os camacs, nagois, gongois e crancais. Os famosos maracs ocupavam o vale do Rio Paraguau e Serra Sincor. O Nordeste do estado era ocupado pelos cariris. No Rio So Francisco encontravam-se os anais e caiaps. Por fim, chicriabs e acros habitavam a fronteira da Bahia com Gois.
Dentre as mais diversas contribuies dos povos indgenas para a formao do novo povo brasileiro est o habito de tomar banho todos os dias, o uso da mandioca na culinria, a diversificao das bebidas destiladas, o uso de utenslios de barro e a prtica da queimada (coivara) hoje prejudicial conservao do solo quando praticada em extensas faixas de terra. Os ndios foram de fundamental importncia para o reconhecimento das terras e das riquezas do Brasil fazendo todo tipo de trabalhos para os portugueses como mostrar fontes de madeira ou de metais preciosos at carregar toda espcie de produtos at os navios.
Alm disso, foram fundamentais na construo e manuteno da cidade do Salvador sempre com a intermediao de Caramuru, europeu com o qual tinham grande aproximao. Com a crescente escravizao dos ndios em nome da Coroa e da propagao do cristianismo, os grupos antes simpticos aos europeus, aram a se impor ao trabalho tornando difcil o controle e uso dos povos nativos, tambm chamados negros pelos europeus.
Negros
A chegada dos primeiros negros Bahia deu-se prximo aos anos de 1549 e 1550, substituindo o trabalho forado de ndios escravizados, inicialmente nos engenhos e plantaes e posteriormente at nas casas grandes, baseando toda a economia do estado. Na verdade, no foi por falta de mo-de-obra que a escravizao alcanou as colnias portuguesas, mas por exigncia do capitalismo comercial europeu que via no negro cara e lucrativa mercadoria. As colnias como o Brasil eram obrigadas a comprar escravos das metrpoles europias que ganhavam muito dinheiro com o trfico de escravos negros vindos de toda a frica.
Para a Bahia foram vendidos africanos das diversas reas e naes desde o atual Senegal atual Angola, na costa ocidental, costa oriental da atual Moambique atual Etipia, ando pelos povos do Congo, Niger e Benin. Pela lngua foram identificadas as naes yoruba, ews, fuls, tapas, ardas, calabares e ausss que falavam rabe e talvez fossem religiosos do Coro.
Segundo Luis Viana Filho apud Tavares existiu uma sucesso no de povos ou naes trazidos para a Bahia o que permitiu a organizao dos seguintes ciclos: I-Ciclo da Guin (XVI); II-Ciclo de Angola (XVII); III-Ciclo da Costa da Mina (XVII); IV-ltima fase - da ilegalidade (XIX).Oficialmente o ltimo desembarque de escravos africanos para a Bahia ocorreu em 1852, na Pontilha, Ilha de Itaparica.
As incontveis importantes contribuies dos negros para a formao do povo brasileiro e dos seus costumes esto fortemente presentes no dia-a-dia da populao ao longo destes 500 anos. A religiosidade africana misturada religio catlica formou, no estado da Bahia, a mais brasileira das formas de reverenciar deuses e santos.
O famoso sincretismo religioso uma das caractersticas do estado que teve sua origem nas senzalas quando em vez de aceitar as determinaes catlicas para a f, os negros as adaptaram s suas prprias crenas. A culinria baiana quase que totalmente dominada pelos temperos africanos, ainda que tenham os europeus portugueses rejeitado por algum tempo o sabor forte dos condimentos. Os pratos tpicos do estado apresentam sempre ingredientes como azeite de dend, camaro seco, amendoim e outros. As danas e msicas, a forma de comemorar, de vestir e outras mais especificamente baianas tem grande influencia dos rituais religiosos e lutas negras lentamente assimiladas pela populao em geral desde o momento em que foram trazidos para o Brasil.
Assim como os ndios, os negros resistiram e lutaram muito contra a escravido qual eram submetidos no Brasil. A mais notvel e organizada forma de luta foi, sem dvida a formao dos Quilombos, que se constituam em pequenas e organizadas cidades auto-suficientes na maioria dos aspectos, fundadas pelos negros que conseguiam fugir das senzalas, dos engenhos e plantaes em todo o estado. Exemplos importantes so os quilombos do Rio Vermelho conhecido no incio do sculo XVII , Cabula de 1807 e Buraco do Tatu formado em 1744, os trs na rea ocupada hoje por Salvador atacados diversas vezes. Tambm no interior do estado formaram-se diversos quilombos como os de Muritiba e Maragogipe descobertos em 1713, os de Nazar e Santo Amaro encontrados em 1801 e muitos outros os quais podem ser melhor conhecidos atravs do trabalho de Pedreira (1973).
Embora mais conhecidos, os quilombos no foram a nica forma de resistncia dos negros africanos no Brasil e, mais especificamente na Bahia. Os registros histricos falam de vrias manifestaes principalmente no sculo XIX como a revolta dos Ausss em 1807, dos escravos em Itapu e outras armaes em 1813, insurreio da Vila de So Mateus em 1822, todas severamente reprimidas, mas que demonstraram a insatisfao e a revolta dos negros escravos que lutavam contra a situao de injustia em que viviam.
Europeus
O Portugus foram, sem dvida, o europeu que mais contribuiu para a formao do povo baiano. Segundo Carlos Ott apud Tavares a origem dos portugueses habitantes da Bahia no sculo XVI , em ordem crescente de quantidade: Entre-Douro-e-Moinho, Trs-os-Montes, Beira, Estremadura, Alentejo, Algarve, Ilhas, na maioria homens do campo e de artes manuais. Alm dos Portugueses, os ses, os Holandeses e por fim Ingleses influenciaram de alguma forma a populao em formao, j que todos mantiveram estreito contato com o povo brasileiro que nascia da miscigenao entre os chamados trs grupos humanos: branco, ndio e negro.
Estes ltimos, diferentes dos Portugueses avam pela Bahia em viagem comerciais, principalmente de contrabando de escravos e matrias-primas como o pau-brasil.Dentre os mais conhecidos Portugueses que contriburam para o desbravamento e explorao das terras baianas est Diogo lvares, o Caramuru. Segundo alguns autores, Diogo lvares saiu do Norte de Portugal e foi nufrago de uma embarcao sa para a qual trabalhava, nas proximidades do Largo da Mariquita, Rio Vermelho, por volta de 1509 ou 1511.
Recebeu este nome, diz a lenda, por ter sado entre as pedras, coberto de limo na frente de um grupo de ndios que notou semelhanas entre o Portugus e o peixe. Diz ainda a lenda que, graas a um tiro dado para o alto, Caramuru escapou de ser devorado pelos Tupinambs e conquistou seu respeito e aceitao.
Caramuru foi o primeiro europeu a conviver com os ndios aprendendo sua lngua e seus hbitos, por isso, foi importante ponte entre os ndios e os colonizadores servindo mesmo como intrprete e pacificador. Convenceu os ndios a ajudar na construo das vilas como a Ponta do Pedro (hoje Forte e Farol da Barra) onde viveu e uniu-se a algumas ndias incluindo a Catarina Paraguau, com quem se casou e teve filhos legtimos e onde se instalaram outros europeus como o prprio Tom de Souza, antes da construo de Salvador. A construo da Cidade de Salvador foi viabilizada pela ajuda dos mesmos ndios que conseguiram material para a construo, carregaram-no at o local escolhido e edificaram a cidade.
Por defender interesses dos ndios ou prprios contra a explorao dos colonizadores ou, como afirmam alguns autores por sua ligao com os ses, Caramuru desentendeu-se seriamente com os representantes de Portugal e morreu em 1557 sem ter sido reconhecido pelo governo portugus como fundamental elemento para a colonizao do Brasil. Dos Portugueses os baianos, como todos os brasileiros, herdaram a forma de sociedade patriarcal.
O Portugus criou, segundo Tavares (1987) a Bahia agrria, mercantil e escravocrata voltada para as necessidades do capitalismo comercial que dominava o mundo dito civilizado. As cidades herdaram a arquitetura da moda em Portugal dando ares europeus cidade de Salvador. Tambm a msica, a religio Catlica, a estrutura familiar com base no casamento, a prtica da monocultura e outras caractersticas mais.