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Vila Real do Brejo - Foto: Bruno Coutinho Araujo (Licena-cc-by-sa-3.0) |
Toda cidade possui fatos, personagens, objetos, recantos, que lhe so peculiares. Em Areia podem ser citados: a gameleira, a fonte do Quebra, o invernto de Salviano, as execues na forca. 553s4l
A Gameleira
A majestosa rvore centenria erguia-se no centro da cidade, como um marco histrico, pois teria sido segunda a lenda, uma estaca do primitivo curral que brotava no Serto de Bruxax, e desafiando o tempo, acompanhara o desenvolvimento da cidade que vira nascer. Assinalava a presena de Areia a quilmetros de distncia constituindo um motivo de orgulho dos areienses que tinham pela rvore uma venerao quase religiosa. Era a testemunha de todos os ventos, um baluarte no ltimo combate travado pelos revoltosos praieiros em 1849, servindo-lhes o imenso tronco como escudo contra as balas dos legalistas. Sob sua copa frondosa repousavam os tropeiros, discutia-se poltica, encontravam-se os namorados, cantavam os trovadores, inspiravam-se os poetas.
Hidro-Motor Salviano
Um areiense, Antonio Salviano de Figueiredo criou um aparelho que revolucionou o mundo da mecnica no pas. Aps 10 anos de trabalho perseverante, sem os recursos da moderna tecnologia, apresentou seu Hidro-Motor, cujo objetivo era o aproveitamento das ondas do mar. Era de fato uma conquista irvel do gnio, da capacidade de investigao e estudo, de um homem que arrastou todas as dificuldades, inclusive a indiferena do meio em que viveu.
O princpio de seu invento era a transformao do movimento oscilatrio das ondas em movimento rotatrio, sempre no mesmo sentido. O Hidro – Motor Salviano foi levado para o Rio de Janeiro onde as experincias realizadas alcanaram sucesso chegando mesmo a interessar ao Governo Federal sua utilizao. Entretanto esse entusiasmo teve pouca durao e logo, por falta de apoio dos poderes pblicos, o notvel invento foi relegado ao esquecimento.
Execues
Areia foi o nico municpio da Paraba onde a forca se ergueu e funcionou, no para executar presos polticos, mas para presos comuns, condenados morte pela justia local. O patbulo foi erguido nas imediaes do matadouro pblico, inaugurando-se em 1847, Compunha-se de dois pesados esteios de madeiras fincados ao solo e ligados no alto por espaoso travejamento. Havia ainda a escada por onde subiam o condenado, o carrasco e o sacerdote.
As execues eram envoltas em um complicado cerimonial – o condenado era conduzido igreja onde ouvia a missa at a recitao do credo quando ento se formava o cortejo fnebre composto por autoridades civis, militares, eclesisticas, a tropa, o povo e at as escolas pblicas com todos os seus alunos e professores (os quais na volta aplicavam em cada aluno meia dzia de bolos para lhe servir de lio).
O Quebra
Em Areia havia outrora quatro fontes onde a populao se abastecia de gua potvel. Eram as do Pirunga, do Limoeiro, do Bonito e do Quebra. O nome desta advm das constantes quedas dos carregadores d’gua em sua ladeira escorregadia e a conseqente quebra dos potes que conduziam. Em 1885 o maestro Tristo Grangeiro, ento Presidente da Cmara Municipal, props a construo de um banheiro pblico na fonte do Quebra.
A construo foi iniciada por ele, sem qualquer nus para a Prefeitura, auxiliado por particulares e inaugurado no dia 1 de janeiro de 1886. Foi um dia de grande festa, com banda de msica discursos e girndolas de duzentas dzias de foguetes. Tristo Grangeiro, entusiasmado, ou todo o dia a reger a orquestra e a banhar-se no Quebra apanhando uma pneumonia que o levou ao tmulo quinze dias depois. Mas seu sacrifcio no foi em vo. O banheiro do Quebra tornou-se uma tradio em Areia – todos, ricos ou pobres, iam at l, a p, conduzindo suas toalhas, conversando amigavelmente, fazendo um bom exerccio, tomando um delicioso banho.
Areia tem 28 engenhos ativos
A civilizao dos engenhos do Nordeste brasileiro deixou razes profundas, tanto que ainda sobrevivem no s na memria local, mas concretamente. No so apenas construes seculares abandonadas, como em muitos casos, mas tambm a manuteno de uma atividade que represente a riqueza da regio nordestina em determinada poca. Os engenhos no interior nordestino surgiram bem depois dos engenhos localizados na faixa litornea.
H registros da existncia de engenhos no Brejo Paraibano desde a segunda metade do sculo XVIII. Tal fato depreende-se da referencia feita por Horcio de Almeida em sua obra: Brejo de Areia de 1958, ao Governador da Capitania da Paraba, Francisco de Miranda Henriques: “Homem probo e moderado, governou a Capitania da Paraba de 1761 a 1764. Terminado o governo fixou-se em Areia, no engenho Bolandeira, onde veio a falecer em avanada idade”.
Diante da informao acima, infere-se que os primeiros engenhos do municpio de Areia surgiram h cerca de 240 anos. Esse registro o mais fidedigno que existe em termos do aparecimento dos engenhos no Brejo Paraibano, consequentemente, o mais citado. Entretanto, tomando como base menes feitas pelos habitantes de Areia, no se descarta a possibilidade de ter engenhos antes dessa poca, a despeito ausncia de comprovao nos anais da histria do territrio.
Os engenhos no poderiam desaparecer do Brejo Paraibano, uma vez que est marcada pela tradio do cultivo e processamento da cana-de-acar. A manuteno de hbitos, costumes e tradies seculares, no caso e questo, em termos de produo, no sucumbiu, mesmo que apontasse alternativa neste sentido. No caso do Brejo, essa tradio produtiva vem persistindo na regio por quase dois sculos e meio.