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Repblica (Museu do Cear) - Foto/Reproduo: Somos Vs |
Repblica Velha 2p4v53
Aps a proclamao da Repblica no Brasil, em 1889, o quadro poltico-econmico do Cear comeou a se transformar. Alguns anos depois, teria incio a poderosa oligarquia acciolina, que recebeu esse nome por ser comandada pelo comendador Antnio Pinto Nogueira Accioli, que governou o estado de forma autoritria e monoltica entre 1896 e 1912. A situao de desesperadora misria e abandono social era uma marca profunda do Cear nessa poca, o que levou ao surgimento de diversos movimentos messinicos ao longo do sculo XIX e XX, tendo como lderes religiosos Antnio Conselheiro (que formaria na Bahia o arraial de Canudos), Padre Ibiapina, Padre Ccero, Beato Z Loureno, etc. Surgiu tambm outro meio de escapar da misria: o cangao. Muitos homens formaram grupos de cangaceiros que saqueavam vilas, assaltavam e amedrontavam a todos.
Alm desses eventos em 1896 comeou a ser construida a ferrovia Sobral-Crateus por Antonio Sampaio Pires Ferreira, onde logo se estabeleceria em suas margens a cidade de Pires Ferreira. O sculo XX, para o Cear, foi marcado pelos ciclos de poder dos 'coronis' e por enormes transformaes de ordem social e econmica. O sculo se iniciou no contexto da oligarquia acciolina, comandada, direta ou indiretamente, por Nogueira Accioli de 1896 a 1912. Durante esse perodo, a famlia Accioli controlou, literalmente, todas as esferas do poder cearense, desde os altos escales do Governo estadual at as delegacias.
Ento se vivia uma conturbada e violenta campanha eleitoral no Cear, graas ao Salvacionismo pretendido pelo presidente Hermes da Fonseca, que procurava enfraquecer as oligarquias regionais contrrias ao seu poder. Dentro das poltica das Salvaes, foi lanada a candidatura de Franco Rabelo para o governo, enquanto Accioli apontava como seu candidato Domingos Carneiro. Em Fortaleza, houve uma eata de crianas em favor de Franco Rabelo, a qual foi repreendida duramente pelas foras policiais, causando a morte de algumas crianas e ferindo outras tantas.
Em consequncia, a populao fortalezense se revoltou contra o governo, mergulhando a capital em verdadeiro estado de guerra civil durante trs dias. Accioli teve, ento, que renunciar ao governo cearense, tendo como garantia o direito de permanecer vivo e poder fugir do Estado. Franco Rabelo foi eleito para governar o Cear logo em seguida, mas acabou sendo deposto por outra revolta, a Sedio de Juazeiro, entre 1913 e 1914.
Juazeiro do Norte era uma cidade recm-emancipada do Crato. Seu surgimento se deveu ao carismtico Padre Ccero, que, aps ter ficado famoso devido ao suposto milagre da Beata Maria de Arajo (cuja hstia teria se transformado em sangue), conquistou uma imensa massa de sertanejos pobres e religiosos. Muitos aram a morar em Juazeiro, de modo que em pouco tempo o local possua milhares de moradores. Como no tinha o apoio da alta hierarquia catlica, Padre Ccero procurou evitar que Juazeiro tivesse o mesmo fim trgico de Canudos e aliou-se ao poder poltico dos coronis, posicionando-se ao lado da oligarquia de Nogueira Accioli. Embora mantendo a proximidade com o povo, o padre tornou-se, para alguns, um 'coronel de batinas'.
Franco Rabelo havia, em pouco tempo, perdido o apoio de muitos polticos que o haviam ajudado a chegar ao poder - a Assembleia Legislativa tentou at mesmo, sem sucesso, votar o impeachment do 'salvacionista'. Os oposicionistas tentaram, ento, convocar extraordinariamente a Assembleia Legislativa em Juazeiro e cassaram o mandato de Rabelo. Este, que tinha ainda bastante apoio em Fortaleza, mandou tropas para Juazeiro do Norte, pretendendo derrotar os golpistas. Os sertanejos, incitados pelo Padre Ccero e pelos coronis, acreditaram ser aquela uma agresso contra o 'Padim Cio'. Iniciou-se um verdadeiro clima de guerra santa em Juazeiro. Aps meses de combate, os seguidores de Padre Ccero venceram as tropas de Rabelo e iniciaram uma longa marcha at Fortaleza, obrigando Rabelo a renunciar ao governo cearense.
Aps a Sedio de Juazeiro, estabeleceu-se um certo equilbrio entre as oligarquias cearenses, no havendo mais conflitos militares entre elas. O povo, no entanto, continuou reprimido e sem voz.
Repblica Nova:
O perodo de Repblica Nova no Cear tem incio com a eleio de Faustino de Albuquerque pela UDN. Durante seu governo, nas eleies de 1950, o candidato udnista a presidncia, Eduardo Gomes, obteve a maior votao colocando Getlio Vargas em 3 colocado no estado. Para a direo do governo estadual eleito Raul Barbosa que foi um dos resposaveis, junto com os parlamentares cearenses, pela campanha de obteno da sede do Banco do Nordeste do Brasil, fundado em 1952, para Fortaleza. No mesmo ano o governo federal inaugurou oficialmente o Porto do Mucuripe. Em seu entorno foram instalados usinas termoeltricas para dotar Fortaleza de energia eltrica em abundncia.
Durante a dcada de 1950 surgiram ou se fortaleceram vrios dos maiores grupos econmicos do Cear: Deib Otoch, J. Macdo, M. Dias Branco, Grande Moinho Cearense e Edson Queiroz. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no perodo. Ainda na dcada de 1950 tem incio uma nova onda migratria para vrios estados e regies. Em uma dcada, entre 1950 e 1960, o estado decaiu a taxa de representao da populao brasileira, de 5,1% para 4,5%. Em 1955 a cearense Emlia Barreto Correia Lima foi eleita Miss Brasil.
Em 1958 foi eleito Parsifal Barroso que teve a ajuda do governo federal para combater as mazelas decorrentes de secas, sendo a principal obra o Aude Ors inaugurado em 1961. Em Fortaleza foi inaugurado o Cine So Luis. O governador inicia a construo da nova sede do governo, o Palcio da Abolio, em 1962 e no mesmo ano criado o Banco do Estado do Cear (BEC).
Em 1963 Virglio Tvora foi eleito governador do Cear. Seu mandato foi at o fim em 1966, mesmo com o surgimento da Ditadura militar em 1964. Seu governo foi marcado pela criao do 'PLAMEG I' - Plano de Metas do Governo que visou a modernizao da estrutura do estado com a ampliao do porto do Mucuripe e a transmisso da energia de Paulo Afonso. Foram criados ou instalados tambm em seu governo o Distrito Industrial de Maracana, o BEC, a CODEC e da Companhia DOCAS do Cear. Com o AI-2, Virglio aderiu ARENA, e seu vice Figueiredo Correia ao MDB.
Nova Repblica:
A Nova Repblica comea no Cear com a eleio de Maria Luiza para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1986. Foi a primeira prefeita de capital estadual eleita pelo Partido dos Trabalhadores e o primeiro poltico do sexo feminino a ser eleito para esse cargo aps o regime militar. A insatisfao com a poltica praticada durante a ditadura militar e o movimento de redemocratizao impulsionam as transformaes no poder poltico, com a decadncia da hegemonia tradicional do coronelismo.
Gonzaga Mota deixa o governo com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas pblicas, mas seu candidato, o empresrio Tasso Jereissati, consegue se eleger com a promessa de modernizar a istrao pblica, afastando-se do clientelismo dos governos anteriores; promover a austeridade fiscal; e desenvolver a economia estadual. A nova gesto a a se autodenominar 'Governo das Mudanas'. Nas duas dcadas seguintes, Jereissati e seus aliados am a deter a hegemonia poltica no Estado, e rapidamente perdem a aliana com partidos mais esquerda, como o PT e o PCdoB.
Ciro Gomes, ento prefeito de Fortaleza, se candidata em 1990 ao cargo de governador com o apoio de Tasso e eleito. Com a abertura do mercado brasileiro, o Cear recebe os primeiros carros importados da marca russa Lada. Os 'Governos das Mudanas' priorizam o aumento dos investimentos pblicos e privados em infra-estrutura e nos setores industrial e de servios, enquanto o agropecurio permanece margem. Politicamente, h uma relativa diminuio de poder dos 'coronis', com ampliao do poder do grande empresariado. O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pela diminuio das despesas com o funcionalismo pblico atravs de demisses e achatamentos salariais - garantem supervits entre 1988 e 1994, mas com a consolidao do Plano Real volta-se a uma predominncia de dficits.
O Estado se beneficia tambm da guerra fiscal que ento se iniciava, o que, somado mo-de-obra barata, atrai vrias indstrias, as quais se concentram em algumas poucas cidades. O crescimento mdio do PIB, de 4,6%, superior mdia nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendncia iniciada na dcada de 1970. As aes do governo, aliado aos esforos do empresariado local, e os incentivos de instituies de grande importncia na histria econmica recente do Cear, como o BNB e a Sudene, foram determinantes para tal desempenho.
O forr eletrnico se populariza na dcada de 1990, e o Cear comea a despontar, seguindo a tendncia do litoral nordestino, como um grande plo de turismo no Brasil. Ao longo dos anos 1990, com aes como o Programa de Sade da Famlia (PSF), o Estado tambm realiza grandes avanos na reduo da mortalidade infantil. A migrao em direo a Fortaleza segue forte, tendo em vista o persistente atraso do interior em comparao com o forte crescimento da capital.[9] A segurana pblica torna-se muito mais problemtica entre 1990 e 2003, com a taxa de homicdios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil habitantes, um aumento de 127%.
Tasso eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforos governamentais na construo e reforma de grandes obras, como a construo do Porto do Pecem, o novo Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Aude Castanho e o incio das obras do Metrofor. O terceiro 'Governo das Mudanas' (1994-1997) se caracteriza pela privatizao de empresas estatais e extino de outros rgos, e pelo seguimento de polticas de inspirao neoliberal, com enxugamento da mquina istrativa, racionalizao dos investimentos, aumento de taxas de contribuio da aposentadoria, etc.
Contudo, apesar de vrios avanos na sade e educao bsicas e do crescimento econmico estvel, a chamada Era Tasso no alterou a estrutura socioeconmica problemtica do Cear, em especial a ausncia de distribuio de renda, o que foi duramente questionado;[6] a m distribuio fundiria; a enorme disparidade regional (sobretudo entre a capital e o interior); a parca infra-estrutura fora da Regio Metropolitana; e os altssimos nveis de pobreza - em 1999, segundo o Banco Mundial, cerca de metade dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza.[7] No incio do sculo XXI, consolida-se a tendncia de queda na tradicional emigrao de cearenses, que, no perodo 2001-2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui melhoria das condies de vida e maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixao do pobre cearense em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.
Lcio Alcntara, eleito com o apoio de Tasso continua, em linhas gerais, o modelo poltico dos governos anteriores, mas no recebe apoio do prprio partido e no consegue se reeleger em 2006, rompendo com o o PSDB e mudando para o Partido da Repblica aps deixar o cargo. Cid Gomes, do PSB e ex-prefeito de Sobral, alcana o cargo de Governador, pondo fim longa hegemonia do PSDB no Estado e sinalizando um movimento rumo oposio na poltica estadual, j demonstrado com a vitria de Luizianne Lins, do PT, na capital, que se elegera em 2004 mesmo sem apoio real do partido, que, devido s alianas partidrias nacionais, apoiara o candidato Incio Arruda. Em 2008, Luizianne Lins reeleita.